segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Coluna do Anício: 15 dicas para gravar guitarra distorcidas

Olá leitores, músicos e amantes da música! Nesse último mês fui para o estúdio. Uma hora como
produtor e outra como guitarrista.
Pra mim foi muito bom pois fazia mais de um ano que não gravava num estúdio profissional!
Porém tive que rever alguns conceitos pois gravei algumas músicas "rock" e outras no estilo "sertanejo pop" então para cada estilo que abordar uma distorção diferente.
No caso do rock eu tinha que ter uma distorção para base e uma para solo
No caso do sertanejo apenas uma para solo, mas a dupla queria uma bem naquele estilo dos anos 90 onde as guitarras sertanejas eram feitas com o harmonist.
Isso foi no meu trabalho de guitarrista, fora isso estava orientando um amigo meu (que já foi meu aluno) como conseguir bons timbres para sua guitarra já que esse é seu primeiro trabalho autoral.
Pensando nisso eu bolei para essa postagem 15 dicas que podem servir para você de como gravar uma "guitarra distorcida" boa, sem complicações e sem frescura!
Não vou abordar sobre mixagem ou equalização, mas tenha isso em mente:
o som que você achar para sua guitarra muda muito pouco no som final na hora mixagem!

1.Tenha um rascunho da sua harmonia e do seu solo
Você não precisa saber escrever tablatura ou ainda mais partitura ou saber figuras e "pressões" rítmicas. Contudo pelo menos você tem que saber qual harmonia irá usar e qual solo irá fazer, nem que seja uma gravação rudimentar com seu celular!
Caso você trabalhe em dupla (não necessariamente com outro guitarrista) gravar a ideia inicial das duas linhas é sempre bem vinda!

2.Na dúvida vá pelo básico!
A maior tentação de hoje em dia são pedaleiras e plugins VST e claro que não está errado, afinal quanto mais prático for uma gravação melhor.
Uma coisa que acontece tanto com guitarristas profissionais, intermediários ou iniciantes é achar que uma "simulação de Mesa Boogie" irá soar realmente como um amplificador de verdade!
Ou ainda achar que a distorção Pro Rat da sua pedaleira realmente sai igual ao do pedal avulso!
As chances de decepcionar na hora da mixagem podem ser grandes!
Por isso na hora de gravar uma dica para "economizar tempo e dinheiro" é simplesmente ter uma configuração básica! Um bom amplificador (que tenha reverb) bem microfonado, com apenas 4 pedais (compressor, distorção, chorus e delay) podem fazer o timbre "dos seus sonhos" em poucos minutos. Lembrando que muitas vezes o que a gente ouve, pode não sair exatamente como na gravação! E não precisa ser exatamente esse pedais! E sim o que você tem a disposição.

3.Válvula ou transitor?
Há 20 anos atrás eu ouvia (e lia) que "os amplificadores valvulados iriam acabar e iriam sobra apenas os transistorizados" e até hoje nada mudou.
Temos amplificadores (e processadores) a válvula e a transistor e qual seria o melhor a usar numa gravação? Minha resposta é o que você achar melhor!
Antigamente havia muita diferença entre os dois, mas hoje em dia com tantos recursos (inclusive para gravação) isso diminui consideravelmente a distância entre o dois.
Por isso não se preocupe se está usando um Fender Blues Deluxe (válvula do) ou um Fender Champion 100 (transistorizado) e sim achar um timbre que irá te agradar e que saia bem na gravação.


4.Nada irá corrigir sua falta de feeling ou tempo!
Se você pedir para Pepeu Gomes, Slash, Robertinho do Recife ou Joe Satiani tocar num equipamento simples, você irá ouvir e ver que ainda eles continuam sendo os mesmos que você ouve nos álbuns. Por isso, não adianta você gravar num equipamento "top de linha" se tocar sem tempo, destreza e feeling.
Quando falamos em "feeling" falamos o sentimento em tocar o instrumento com paixão e não precisa ser algo "longo ou cheio de técnica" como alguns guitarristas querem ser. O solo de "King of Pain (The Police)" e "Ovelha Negra(Tutti Frutti)" são lindos, com poucas notas e com muito feeling! E se você não gravar assim pode ter certeza que na hora da mixagem nada irá corrigir a falta do mesmo!

5.Grave com metronomo!
Pra quem não é profissional pode complicar bastante! Mas o metronomo é a certeza que você está no tempo da música e que se precisar fazer um sidechain entre a "voz e a guitarra rítimca" tudo
irá sair perfeitamente! Na mesma coisa com os solos ou arranjos, pode parecer esquisito na hora da gravação mas na hora da mixagem faz toda diferença.
Se preferir gravar sem, o melhor é passa inúmeras vezes em casa a música porém usando o metronomo!

6.Nada ganha da Strato e da Les Paul!
Muitas vezes vemos em show guitarristas guitarras com "micro-afinação" como Ibanez, Krammer ou Jackson achamos que eles usam essas guitarras para gravar.
A maioria das vezes sim e muitas vezes eles ocorrem para as "velhas" Fender Stratocaster e Gibson Les Paul. O porque disso é porque simplesmente elas funcionam como um bom violão: não precisa de muita frescura para conseguir um bom timbre e mantém a afinação em qualquer tom.
É claro que não precisa ser exatamente as "originais"!Os mesmos modelos fabricados por outros fabricantes (inclusive as marcas de "micro-afinação" que citei) com bons captadores dão conta do recado perfeitamente!

7.Mude o tom com a chave seletora de captadores ou com o botão tone
Uma vez li numa entrevista que Steve Morse (do Deep Purple) quando queria mudar o tom dos seus solos apenas, mudava a "chave-seletora" dos captadores assim como seu ídolo  Ritchie Blackmore (o guitarrista orinal da banda) fazia.
Em muitos shows você pode notar que Slash (Guns N´Roses) muda o som da sua guitarra apenas mexendo num dos Knob  (botão) de Tone (Tom) dela sem mudar na "chave-seletora".
Você não precisa sair correndo para mudar o tom no equalizador, basta apenas fazer essas duas dicas!

8.Não faça dobras iguais!
Se você toca em dois (duas guitarras ou uma guitarra e um violão) e fizerem exatamente as mesmas notas (nas mesmas formas) tudo irá soar como um chorus ou como um "violão com ressonador"!
Procure sempre fazer outros acordes. Se um fizer os acordes "abertos" e outro usar os mesmos acordes com "pestana", "power chord" ou em "tétrades" vocês irão notar a diferença na hora da mixagem.  Pegue suas bandas preferidas que usam duas guitarras e ouça como dificilmente uma faz a mesma coisa que a outra.

9.Atenção nos controles de ganho e volume!
A maioria do pessoal reclama com o "engenheiro ou mesário" do estúdio que o som da gravação não está igual ao do amplificador!
Isso porque você deve estar ligado que o som do amplificador "cru é uma coisa" e gravado é outra, é mais ou menos como a história da voz: ouvimos uma coisa totalmente difente
quando nos gravamos!
Um dos problemas é o execesso de controles de "volume e ganho" dos equipamentos.
Por exemplo, um amplificador padrão geralmente tem o master (que é o controle do volume total), gain (ganho),  level (que é o sinal puro do amplificador), o equalizador e por fim o controle de presence (que dá ganho nos médios agudos).
Com tudo isso se você e nem que opera a mesa de som  controlar o que vai para dentro da sua gravação sem levar em conta que a mesa também tem estes controles (ou quase todos) assim como o que estiver passando por ela no rack (como compressor)e o resultado final pode ser algo que você não imaginou!
Uma coisa que faço é sempre deixar o amplificador com uma distorção mais crunch e depois ir com o mesário regulando as demais entradas até chegar na distorção gravada que eu quero.
Você ouviu a frase "o peso está nas mãos" se refere justamente a isso, pois muitas vezes a guitarra não é tão pesado quanto você pensa quando sai do amplificador.

10.Distorção vs Hiss
Muito da distorção da sua guitarra pode depender do captador que usa. Um bom exemplo um captador como o Seymour Ducan Paf Pro soa perfeito com uma distorção do tipo overdrive
pois seu "ataque" é próximo a frequências "médias" enquanto um Dimarzio Super distortion soa melhor com distorções do tipo distortion ou fuzz pois está mais próximo das frequências "agudas".
Isso não é uma regra, mas é para você melhor entender o efeito chamado Hiss (chiado) que é a principal dor de cabeça numa distorção.
Ele acontece geralmente pelo excesso de agudos acima de 5k numa distorção geralmente acima dos "6" no knob (botão) de ganho e também por incrível que parece sua sobra acontece em volta dos 100 Hz.  Com um spectrum analyser (analisador de espectro) é possível que guitarras de gravações famosas tem um grande "corte" nessas frequências que citei, justamente por causa do hiss e aqui pode ser outra  maneira de conseguir o timbre que você quer, basta gravar e depois ver como ele se comporta quando você tira as frequencias entre "40-100 Hz" e "5-14 kHZ" com um equalizador paramétrico.
Não tente tirar direto do amplificador, pedaleira ou VST! Geralmente não funciona.

11.Camadas de efeitos
Alguns timbres de guitarras mais marcantes foram conseguidos com "camadas de efeitos", mas o que é isso?  É simplesmente você gravar uma guitarra passando por vários processadores em níveis diferentes. Antigamente os guitarristas tinha um "rack gigantesco" para fazer isso, mas hoje em dia,
você pode gravar a guitarra pura num canal, usar o outro para gravar o efeito e ainda usar a gravação em USB para acrescentar outra coisa. Porém tenha muito cuidado! Para que o som não saia fora de fase!  Duas distorções ao mesmo tempo, podem ter trazer um ótimo resultado ou um desastre total!
Se você aumenta uma (o gain e o tone) tem que baixar na outra, ou ambas se anulam causando um cancelamento de uma das fases dela!

12.A posição dos microfones
Na internet existem várias dicas sobre como posicionar os microfones, particularmente eu prefiro usar dois, geralmente do tipo Shure 57.
O primeiro eu coloco perto do cone e isso ajuda a obter as frequências mais próximas ao "harmônico da guitarra" (em torno de 200 Hz) contudo sobra bastante frequências "médio graves" também.
O segundo eu coloco na posição off axi (fora do eixo) que é afastado do falante e isso irá me ajudar a pegar mais os agudos além do ambiente do local de gravação.
Não gravo numa pista estéreo e sim em duas mono (esquerda e direita) e daí ouço e vejo o que vou fazer. Se irei misturar as duas, deixar estéreo ou simplesmente só escolher
uma delas.

13.Simuladores de Amplificador
Apesar de simulador de amplificador serem uma "mão na roda" não substituem um amplificador real. Geralmente eu faço mesmo take de guitarra usando a minha
Line 6 500HD imitando algum amplificador famoso direto da entrada USB dela para dentro do programa de gravação no computador (DAW) e daí faço o mesmo  com o amplificador e decido qual ficou melhor ou ainda, misturo os dois.
Tudo também depende do tempo. Simuladores para fazer "jogo rápido" são excelentes, pois você já trás  para o estúdio a pedaleira já programada para isso.

14.Gravar parte por parte
Não gosto de ficar perdendo tempo e nem dinheiro quando estou gravando num estúdio, então se eu erro não refaço tudo de novo, começo a partir da batida que errei.
Muitos guitarristas não gostam disso, mas se hoje dia podemos gravar, voltar e editar, porque não se aproveitar disso? Pense num solo perfeito que você gravou e perto do final você erra.
Se você começar tudo de novo, provavelmente não terá o mesmo feeling, então comece da batida que errou!  Porém isso aqui só funciona com o uso do "metrônomo", então se você não usa, mais um incentivo para aprender a trabalhar com ele!

15.Ache seu jeito!
Pra finalizar só posso dizer pra você achar o seu jeito de gravar. Todos os caras que você admira tocando, tem seu estilo próprio. Alguns encontraram por sua conta, outros contaram com  a ajuda de um produtor. Enfim, não importa como você vai achar o seu, tente encontrar! Pois senão você corre o risco de soar como um "guitarrista famoso" e nunca soará como você mesmo!

Que a música esteja com você!!!
Postado por:
Anício de Oliveira
OMB: Anos 90!
Contato:
anicio.guitarra@gmail.com

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