Hoje vou fazer um postagem sobre O Estilo do Faith No More e pra quem não conhece quando faço esse tipo de postagem (como fiz com Legião Urbana, Dire Straits, Queen, Bon Jovi e Van Halen) procuro priorizar não a mixagem ou masterização da banda em si e sim mais quem são os músicos, o estilo dela e os timbres de gravações que ela usou.
Fazia algum tempo que não postava algo desse tipo mas como essa semana estou escutando e tocando Faith No More quase todo dia resolvi escrever sobre eles que junto com Legião Urbana e Gun´s Rosessão responsáveis pelo jeito de tocar e compor.
Eu conheci o Faith No More por um erro de compra do meu pai.
Eu tinha 14 anos e pedi o Use Your Illusion II do Gun´s para meu pai e ele me trouxe o Real Thing do Faith No More e até hoje não sei como ele pode se confundir assim! Como não tinha muito o que reclamar coloquei o CD e fiquei ouvindo suas faixas.
A primeira coisa que notei que ela era diferente das bandas dos anos 90 (que estava sobre o império do Grunge e do Hard Rock) pois os caras faziam uma "confusão musical" muito bem orquestrada e ali tinha de tudo: rock, hip hop, funk, música eletrônica e heavy metal tudo minimamente sincronizado.
A segunda foi que a banda apesar de usar harmonia sem muitas distâncias de intervalos usava para arranjo, riffs e solos "escalas alternativas" como por exemplo Cigana, Dórica, Frígia, Árabe e outras que não me recordo.
E a terceira a voz de Mike Patton que nunca deixa a mesma voz a cada música sempre mudava alguma coisa. As músicas chegavam a incomodar no ouvido e me lembro que eu estava tão acostumado a timbres distorcidos padrão (como de amplificador Marshall com chorus e delay) e escutar a guitarra de Jim Martin sempre acompanhada de harmonizer ou pitch shifter nem parecia uma guitarra, antes de ver o show Live in Brixton Academy achava que muitas coisas
era feitas no teclado!
Acho que foi CD que mais marcou minha adolescência justamente por ser tão inesperado e por anos sonhava montar um banda desse tipo que mesclasse um pouco de tudo. Após essa introdução vou fazer uma "análise" mais profunda como a banda se comporta porém lembro que aqui muitas coisas além de pesquisadas também coloco minha opinião como músico.
Os Álbuns
A banda até agora lançou 7 álbuns de estúdio:
1.'We Care a Lot' (1985)
2.'Introduce Yourself' (1987)
3.'The Real Thing' (1989)
4.'Angel Dust' (1992)
5.'King for a Day ... Fool for a Lifetime' (1995)
6.'Album of the Year' (1997)
7.'Sol Invictus' (2015)
Ainda há o Live in Brixton Academy (1990) que é o ao vivo que foi o que ajudou a divulgar a banda mais massivamente na MTV. Muitos críticos dizem que o King for a Day e o Album of ther Year foram os embriões iniciais para o estilo New Metal que consagrou bandas como Korn (inclusive o baterista do FNH tocou com eles), Limpzblitkitz, System of a Down e Link Park.
Os membros da banda
Mike Bordin (Bateria)
Considerado um dos melhores bateristas metal atualmente é um dos fundadores da banda. Sua bateria principal é uma Yamaha (não é um modelo específico mas é montada com vários Kits Yamaha). Quando a banda fez um intervalo entre 1997-2015 ele tocou com Ozzy Osborne, Jerry Cantrell e Korn.Curiosamente ele já teve uma banda no colégio chamada EZ Street cujo tinha o lendário baixista do Metallica Cliff Burton e o futuro companheiro no FNM o guitarrista Jim Martin.
Sobre o seu estilo:
Ele geralmente trabalha com funk metal, hard rock, metal e progressivo. A maioria das músicas ele deixa "tudo reto" porém em muitas outras há um toque imenso de jazz e rock progressivo.
Billy Gould (Baixo)
Além de baixista é o produtor da banda, também um dos fundadores. Por anos ele tocou com os baixos Aria e Fender mas ultimamente é só visto com seu baixo signature o Zon Bass.
Desde o início da carreira sua preferência sempre foram os amplificadores Peavey.
Sobre o seu estilo:
Possui um estilo de tocar chamado Gould Style que consiste em misturar de forma alternada as técnicas de Four Fingers, Slap e Palhetadas numa mesma música para linha de baixo, o que o tornou jutamente com Flea (RHCP) um dos percussores do Funk Metal. Outro detalhe é que ele abusa do efeito Flanger e da Distorção (por isso nas músicas mais pesadas da banda parece haver dois guitarristas).
Roddy Bottum (Teclado)
O outro fundador da banda tem formação em piano clássico (claramente você pode ouvir isso em músicas como Edge World, Epic, Easy e Everythings Ruined) porém suas "camas poderosas" (como em We care a lot, Woodpecker from Mars, Ashes to Ashes, Falling to Piece e Be Agressive ) são tão pesadas quanto as guitarras distorcidas.
Ele até 1997 usou quase sempre os sintetizadores Emu Emax II e Kurzweil (embora algumas vezes um Roland também), contudo hoje dia ele é endoser da M-Audio e nos shows é visto com um "teclado/controlador" Keystation Pro 88 com dois notebooks IMac para uso de VSTi e Loops .
Sobre o seu estilo:
Ele faz quase tudo usando como base os timbres de strings, pads, synthbrass, piano e sweep e também os back vocals.
Sobre os Guitarristas: a banda teve muitos guitarristas (foram mais de 7 desde o início) por isso vou destacar somente os principais:
Jim Martin (Guitarra 1983-1993) Se Slash (Gun´s Roses) foi responsável por popularizar de novo a Gibson Les Paul nos anos 90, Jim Martin ajudou a popularizar de novo outro modelo da empresa:
a Gibson Flying V. Conhecido como "Big Jim Martin" era impossível não notar sua presença no palco (devido ao seu jeito de se vestir) além da guitarra "espelhada".
Ele tinha uma banda no colégio chamada Spastik Children com James Hetfiield e Cliff Burton do Metallica (pra quem não sabe ele contribui para banda de vez em quando).
Além da Flying V ele também usava usualmente uma Les Paul Standard geralmente com amplificadores Mesa Boogie Mark III combinados com caixas Marshall contudo
usualmente também um Marshall JCM 800 ou 900 já que ele nunca falou realmente sobre o que usava.
Sobre o seu estilo:
Sua influências são mais setentistas para solos. Contudo quando se trata de bases ele se volta mais ao Heavy Metal dos anos 80.
Essa vídeo aula mostra bem isso:
Não posso também de deixar de falar sobre seus efeitos como harmonizer, pitch shifter, delay e chorus que fazia a guitarra casar com o sintetizador que é uma das marcas do FNM.
Jon Hudson (Guitarra 1996- Atualmente)
Bem menos badalado que Jim Martin (que a maioria dos fãs considera o guitarrista ideal da banda) manteve a mesma sonoridade da banda a ao assumir o posto dele.
Também sabesse mais dele (ele deu mais entrevistas) do que sobre "Jim Martin" (que quase não fala) inclusive sobre os equipamentos que le usa.
Ele geralmente usa uma Gibson Les Paul embora em alguns shows pode ser visto com uma Fender Stratocaster e um amplificador Marshall JCM800. ligados a uma série de pedais. Ouça o som dele:
Sobre o seu estilo:
Praticamente quase o mesmo de Jim Martin, muito disso pois ele preferiu manter a sonoridade da banda do que fazer algo novo o que foi bem acertado.
Chuck Mosley (Vocal 1983-1988)
A banda ficou algum tempo sem vocal e "Chuck" assumiu a vaga e conseguiram com ele alguns singles de sucesso como We care a lot, Arabian Disco e Anne Song até que ele foi demitido da banda.
No caso dele (ao contrário de Jim Martin que saiu por desavenças com Mike Patton e o produtor Matt Wallace) ele foi literalmente "despedido"
pois os membros da banda alegaram que ele bebia demais e tinha pouco alcance vocal, porém ainda há outro boato que ele e Jim Martin só discutiam ao invés de tocar.
Sobre o seu estilo:
Sua limitação no vocal ou era demais ou era de propósito.Porém na minha opinião seu vocal não fechava com a intenção da banda e muitas músicas
parece que ele vai perder o folêgo, mas talvez seja questão de estilo. Existe uma coisa sobre bandas que poucos comentam: mesmo se o vocalista for fraco mas a banda
fazer sucesso, ninguém vai querer saber de outro. É como eu sempre digo: cante apenas afinado e deixe que o público decide se você é bom.
Mike Patton (Vocal 1989-Atualmente)
Quando "Chuck saiu", Jim Martin ouviu a demo de uma banda chamada "Mr.Boggie" e adorou o vocal de Mike Patton. Mostrou aos demais que logo o contraram em 1989 e lançaram o álbum "The Real Thing".
Graças ao vocalista, a banda remodelou o seu som, já que ao contrário de "Chuck", "Mike" tinha um alcance vocal perfeito, sem contar que mudava seu timbre de voz como quando um
comediante fica imitando alguém famoso e graças a essas "pirotecnias" na voz ele mudou a banda, tanto que um não sobrevive sem o outro. No vídeo abaixo ele canta num estilo totalmente diferente da banda.
Sobre o seu estilo:
Em entrevista a uma revista ele disse que nunca quis saber sobre seu alcance vocal (o fato que ele faz perfeito do barítono ao tenor) e que nunca teve aulas de canto ou música.
Uma das coisas que ele deve a sua "excelente afinação" que o seu pai o fazia imitar "sons de pássaros" quando era criança e isso o tornou famoso na vizinhança.
As músicas da banda:
Eles trabalham com Metal, Funk Metal, Hardcore e Power Balad e geralmente se intercalam nesses estilos. Existe uma "briga" entre eles o Red Hot Chilli Peppers pois ambas as bandas
alegam terem criado o "Funk Metal". Na minha opinião o RHCP soam mais funky (graças ao baixo de Flea e a guitarra de John Frusciante) com tudo a intereção dos músicos do FNM é bem mais coerente
tanto que há uma grande difençado do RHCP em estúdio do que ao vivo (eles soam muito diferente) e isso não acontece no FNM: o que você ouve no estúdio também ouvirá ao vivo a menos que Mike Patton fique irritado com algo (num show do chile em 1993 ele ficou tão irritado que não tinha retorno que cantou a maioria das músicas só falando besteiras ou fazendo barulhos).
Geralmente as letras são politizadas (como We care a Lot ou Everythings Ruined), sobre dúvidas pessoais (como Epic ou Midlife Crisis), dramáticas (como King of the Day ou Just a Man), românticas sombrias (como Zombie Eaters ou Edge World).
As Músicas
Eu gosto de todas as músicas da banda, mais destaquei essas por soarem diferentes das outras (na verdade elas contribuíram para criação do estilo da banda).
We Care a Lot (Álbum:We care a lot)
Tom:Em
Veja a Cifra aqui!
Música (Vídeo)
Essa música foi o primeiro sucesso da banda e praticamente a única mantida da era Chuck Mosley em shows até hoje. Praticamente se você a ouvir irá ver que ela "moldou o estilo da banda", uma bateria reta (parecendo uma eletrônica), o baixo com exageros de notas fortes e contra senso com a guitarra, a guitarra pesada como metal mais levada como funk (por isso o termo funk metal), os back vocals como coral (sempre com reverb hall) e claro o vocal falado como um rap (por isso muitos dizem que a banda também é rap metal). Quase sempre as músicas mais pesadas da banda é usado o tom de Em (Mi Menor).
Epic (Álbum: Real Thing)
Tom:Em
Veja a Cifra aqui!
Música (Vídeo)
O Álbum The Real Thing além de ser a estréia de Mike Patton nos vocais também foi o que abriu as portas do sucesso para banda e a tornou uma das queridnhas da MTV nos anos 90.
Se você comparar essa música e a anterior verá que pouca coisa mudou no estilo, porém aqui as guitarras foram bem mais destacadas (com riffs e um solo muito legal), o vocal pirotécnico do refrão (que iria virar a principal característica do vocalista).
A cama de teclado pesada com synthbrass, strings,piano e new age (o final é arrebatador) e a bateria já não está tão reta. É um dos maiores sucessos da banda.
Falling to Pieces (Álbum: Real Thing)
Tom:A
Veja a Cifra aqui!
Música (Vídeo)
Essa foi o primeiro sucesso "radiofônico" da banda e também a atingir o TOP 10 da MTV. Aqui os elementos da banda já ficaram mais pop rock.
A bateria está com mais destaque na caixa (emparelhando com o vocal), o baixo totalmente calçado no funk (precisamente tocado), o teclado com uma cama mais ritmica (não tão reta) e
a guitarra novamente soa como metal e outras horas soa como funk. Nos vocais não há aquele rap característico e Mike Patton mostrar porque já foi eleito um dos 10 melhores
vocalista do metal pois a mudança de timbres com naturalidade é fantástica (tanto que ele faz isso nos shows). Embora seja a música mais pedida nos shows hoje é dia é raro ver a banda tocar
talvez por causa de tanto que ela tocou ou algum problema autoral entre a banda e o ex-guitarrista Jim Martin. Quem souber deixe por favor nos comentários!
Zombie Eaters (Álbum: Real Thing)
Tom: Em:
Veja a Cifra aqui!
Música (Vídeo)
A maioria das pessoas falam que ao ouvir essa música foi uma surpresa pelo fato que ela começa naquela "lenga lenga de drama mexicano" e na hora do refrão acaba virando uma "pancadaria" no melhor estilo trash metal.
Esse uma das coisas que fez com que banda soasse bem diferente das demais e essa fórmula foi muito copiada. O acorde inicial da guitarra (Em9 ou Em9.7 ou Bm/E) você pode ouvir também nas músicas Fade to Black (Metallica) e Wasting Love (Iron Maiden) é o som perfeito de strings casando com a guitarra, o baixo limpo durante todo a música e na hora do refrão Billy Gould acrescenta distorção a palhetada (parecendo uma segunda guitarra) e uma bateria que deve ter deixado muitos em "apuros" pra tira-lá (totalmente diferente das retas das músicas anteriores).
Uma curiosidade: essa música demorou 6 anos para ser feita! Ela originalmente veio de um exercício rítmico criado pelo baixista. Nesse Link você pode ouvir todas as versões da música incluindo uma com Courtney Love (viúva de Kurt Cobain do Nirvana) nos vocais.
Midlife Crisis (Álbum: Angel Dust)
Tom:Em
Veja a Cifra aqui!
Música (Vídeo)
Muitos dizem que Surprise! You Dead! e essa música foram as idéias iniciais do New Metal. Aqui temos todos os elementos que se encontra no estilo:
Teclado usando samples (fora a cama) e soltando loop, Guitarra pesada casando com o vocal, Baixo limpo na música e distorcido no refrão, bateria com mais destaque no bumbo
e claro o vocal uma hora falado e outra hora cantando. Essa música foi o hit do álbum Angel Dust justamente por ser grudenta como Easy a regravação da banda do grupo
de Lionel Richie, The Commodores.
Everythings Ruined (Álbum:Angel Dust)
Tom:G
Veja a Cifra aqui!
Música (Vídeo)
Nessa música um destaque bem comum da banda: o uso intenso de piano (como você também pode ouvir nas músicas Easy, Edge World, Evidence) depois o timbre de strigs e pads. A bateria aqui também é bem trabalhada, o baixo destacado com flanger e a guitarra é bem hard rock.
Aqui também as pirotecnias vocais de sempre.
Ashes to Ashes(Álbum:Album of the Year)
Tom: F
Veja a cifra aqui!
Música (Vídeo)
Essa música soa como se fosse a "despedida da banda" (lembrando que eles terminaram em 1997 e voltaram em 2014) e de fato tudo o que fez o Faith no more ser destacado está aqui.
Bateria muito bem elaborada (até um pouco fora do padrão da banda), Teclado com camadas, o baixo soa tímido até a hora do refrão e aqui a mais "riffs" de guitarra do que "power chords" (destaque para o solo belo e minimalista e ainda afinação em Drop D da mesma). O vocal talvez seja o mais alto que Mike Patton já fez (ele sobe até duas oitavas). Se fosse uma canção de que marcasse a trajetória da banda (como Show must go on do Queen) teria com certeza dado conta do recado.
Just a Man (Álbum:King for a Day... Fool for a Lifetime)
Tom:C e Cm
Veja a Cifra aqui!
Música (Vídeo)
Como dito antes, a banda sempre fez um "romantismo bobo" ou "sinistro" nunca de fato nada romântico. Essa música continua seguindo essa linha contudo aqui
os maiores destaques sem dúvida é o teclado (parece uma orquestra), a guitarra funkeada (estilo pop) e depois pesada e o vocal com direito a "outside" no refrão.
A cozinha (bateria e baixo) soam bem mais tímido que as outras músicas da banda.
Outras músicas para você ouvir e entender melhor o estilo da banda
Arabian Disco, Anne Songs, The Real Thing, Surprise you dead!, Evidence, Naked in front a computer, Last Cup of Sorrow, Be Agressive, Crack Hitler Underwater Love, Strip Search, Superhero, Black Friday e Ugly in the Morning
Você pode conferir na integra o "Make of do Album Angel Dust (1992" em inglês. Ótima lição de produção!
Ótimas gravações!
Postado por:
Rafael o KH
Autor do blog Palco KH!
Músico e Técnico em T.I
OMB:13850
Contato:
rafael.kh@gmail.com
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